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sábado, 8 de junho de 2019

BROTAS DE MACAÚBAS: OS SINOS DA IGREJA E A FESTA DO DIVINO


OS SINOS DA IGREJA E A FESTA DO DIVINO

Por Wanderley Rosa Matos

Tudo pronto para Brotas viver, mais uma vez, uma das mais tradicionais festas da Chapada Diamantina, bem como do Território do Velho Chico, a Festas do Divino Espírito Santo. Na verdade a festa está chegando ao seu ápice,  pois começou a cantar a ladainha das esmolas neste ano de 2019, na comunidade de Mata do Bom Jesus, desde o domingo de páscoa.

HISTÓRIA
Ainda hoje, não temos ao certo quando teve início, na Paróquia de Nossa Senhora de Brotas, a celebração a Santíssima Trindade, não existem registros de quando e nem mesmo de quem foi ou foram os seus introdutores no calendário religioso da Antiga Brotas. Tudo que temos são alguns poucos relatos colhidos na tradição oral, os quais dão conta que a origem da festa vem da antiga povoação de Lagoa de Dentro, quando um grupo de pequenos agricultores, de passagem pela povoação de Minas dos Espírito Santo, no distrito diamantífero de Chapada Velha, participaram e gostaram da festa e de lá trouxeram para Lagoa de Dentro, de onde ganhou a simpatia e o jeito do povo e se firmou nas andanças pelas comunidades da região, onde um grupo de pessoas carregam uma bandeira vermelha e trazendo ao centro uma pomba branca, acompanhados pelo som da sanfona e do zabumba 'entoam' a cantiga das esmolas, que fala do Espírito Santo - "O Dono do sol que nos cobre" entra de casa em casa, de localidade em localidade, onde se oferece aos moradores uma "proteção" após a morte: "Divino Espírito Santo / Divino Consolador/ Consolai as nossas almas / Quando deste mundo for" e, completa: "Quem se Benze com a Bandeira / Deste Divino Senhor/ Benze Deus a sua Graça / Dentro de seu resplendor" e em outro verso justifica: "ele é dono do tesouro /  pede esmolas como pobre / pede para experimentar quem seu devoto quer ser"  por fim, / pede uma esmola, "Para ser bem festejado  dentro de sua capela".

Neste ano de 2019 ao reviver a tradição, a Paróquia de Nossa Senhora de Brotas, liderada pelo Pároco Uellinton Matos e que tem o comando dos festejos na Imperatriz Davina Barreto e na Capitã do Mastro Ivanilde Nascimento.

OS SINOS DA IGREJA.

Outra tradição da centenária Festa do Divino, que dar um brilho especial à festa, é o som inesquecível que sai dos sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Brotas, no momento em que a cavalaria da Imperatriz fizer a sua entrada triunfal na cidade ao som de antigos dobrados executados pela filarmônica de Macaúbas, ao fundo acompanhada pelo repique dos sinos da igreja.

Contam as crônicas regionais que, ainda nos tempos do antigo Arrayal de Nossa Senhora das Brotas, implantado pelo velho Carlos Rodrigues de Araújo Barreto e Dona Messias Rodrigues Paz, quando um dos seus netos Mathias Filho, deu por concluída a construção da Igreja Matriz e seu irmão, o  Capitão Antônio Sodré de Araújo Barreto, chegou de São Salvador, capital da Província da Bahia, trazendo a imagem de Nossa Senhora de Brotas e marcou a celebração da missa inaugural, a ser rezada pelo Padre Manoel Florêncio Pereira, que foi necessário trazer de Santo Antônio do Urubu de Cima, atual município de Paratinga, um sineiro, ou tocador de sino, para ensinar aos brotenses como tocar os sinos da Igreja, dando início a uma das mais bonitas tradições de nossa terra, a batida dos sinos da Igreja.

É bem verdade que nem sempre a música que vem da torre da igreja é de alegrias pois, por tradição, eles também anunciam a comunidade a morte de seus entes queridos, porém de forma bastante precisa, pois a batida do sino além de ser feita de forma pausada, dando o clima de tristeza, também indica que se o falecido é homem, mulher ou ainda uma criança.

Mais, no dia a dia, os sinos da igreja tem a função de anunciar aos fiéis, se aquela noite será uma simples reza, ou uma missa, ou ainda uma missa festiva, para cada acontecimento, um toque diferente, a fim de comunicar ao fiel, qual será o evento religioso daquele dia, e chamá-lo a comparecer a tempo de chegar antes do início da celebração.

Porém, o sino mais esperado por todos, é o sino de missa festiva, e o sino de procissão, quando a batida frenética "enfeitada" pelos repiques, enchem de emoção os coração do povo .

Não existem registros, mais a arte de tocar os sinos da igreja é uma atividade muito antiga e, desde que soou pela primeira vez, na igreja em Brotas, até os dias de hoje, muitas pessoas doaram parte de seus tempos para tal tarefa de tocador de sino, assim, temos notícias que, pessoas como o Sr. Percíliano Barbosa, há muitos anos atrás, era o tocador dos sinos da matriz, e dele transmitiu a centenas de outros anônimos brotenses, que a passaram de gerações a geração, relembramos aqui, de alguns nomes, ao tempo que imaginamos a que existiram muitos e muitos outros, a exemplo da memória "Dilcim de Roxa, um dos mais completos tocadores dos anos 40 / 50, também, o hoje padre Antônio Viana se encarregou por tempos da batida do sinos, João Costa (irmão de Pedro Costa), o saudoso "cantador de leilões" Titá, Aderbal e Dalton de Davi,  Nóe Martins, João Bento Teixeira, Ademir Queiroz além é claro, dos Padres que por vez, anunciam as missas semanais.

Nos dias de hoje, temos alguns tocadores do sino da Igreja a exemplo de Marcos Reis Santos, especialista nos toques de missa; o famoso Naldo de Chico, e seu irmão Gilvan, mais requisitados para os toques fúnebres; já para os dias de festa e o sineiro mais requisitado pela população é Antônio Oliveira, "Toni de Dadá" como é conhecido, por ser filho de Antônio Oliveira e Dona Dadá,   neto do famoso Coronel José João de Oliveira, que por sua vez, foi bisneto do pioneiro Carlos de Araújo Barreto.

A tradição do toque dos sinos da igreja Matriz de Nossa Senhora de Brotas, é uma atividade exclusiva dos homens, que se mantém viva e tornou-se uma referência de identidade cultural da população Brotense. Uma atividade afetiva, lúdica e devocional e voluntária, realizada por pessoas anônimas, cujo o saber de tocar sinos está na memória e na habilidade, passada de geração em geração, um repertório não escrito, constituído de pancadas, badaladas e repiques, executados com o sino paralisado, e de dobres, executados com o sino em movimento. 

Texto Wanderley Rosa Matos
Fotos Wanderley e Luciano
Divulgação da Festa
08/06/2019
BROTAS DE MACAÚBAS: OS SINOS DA IGREJA E A FESTA DO DIVINO
  • Título : BROTAS DE MACAÚBAS: OS SINOS DA IGREJA E A FESTA DO DIVINO
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