Coluna A Gente Que Faz
Por Dilton Aécio
No voo da Asa Branca
Sou Dilton Aécio Rodrigues de Oliveira, ou somente Dilton Aécio, ou Dilton, ou Aécio e até Chico. Muitos contemporâneos me chamam de Chico. Essa alcunha é genérica em muitos em Brotas. Chico de alguma coisa; a minha ficou sendo Chico Suvela, criação do grande Naldo de Chico. Um dia perguntei a ele porque Suvela, e ele, rindo, me disse que eu era muito magro, parecido com a dita ferramenta. Entendi. Naldo é uma das grandes inteligências que já surgiram por essas bandas. Colocou apelidos na maioria de nós. E todos pegaram.
Nascido durante as Missões de Sessenta, filho mais velho de Seu Flásio e Dona Quida, irmão de Adilson, Claudinho, Terêncio (Eufrásio Nilton), Bé (Ailton), Evaldo, Mara e de Laerte (que foi embora antes do tempo). Casado com Dona Vera Martins, pai de Hugo Vinicius e Laís Marina. Sou um abençoado. Minha família foi um presente de Deus.
Bom aluno, todo final de ano travava boas batalhas com Arthur Henrique, Ceminha (saudosa) e outros pelo primeiro lugar nas provas finais. Tive muita ajuda, principalmente quando começou a funcionar em Brotas o Cenecista. Não tinha como pagar as mensalidades, apesar de muito pequenas. Várias pessoas me ajudaram nesse momento. Padre João, Maninho de Henrique, Carlos Souza e, principalmente a Professora Lourdes. Nunca esquecerei.
Servente de pedreiro era a atividade disponível aos adolescentes de minha época. Mesmo com esse físico de “Suvela”, fui servente na maior parte do tempo. Servente de Tone de Rita, Belim, Preto da Lagoa de Dentro, Gustavo e vários outros. E naquele tempo não havia blocos de cerâmica. Era adobe em quase todos os serviços. Em algumas oportunidades, no final de semana o pagamento não era em dinheiro; era em cereais: Feijão, arroz, óleo, farinha, já que trabalhávamos para ajudar no sustento de nossa família.
Final de tarde era sagrado para o baba, com Zé Preto, Genesinho, Romildo, Gabriel, Lelei, João Gordo, Saruê, Compadre Cláudio, Ezio, Autur Queiroz. Muita gente boa. O treinador era Euval (conhecido por Brandão, outra alcunha de Naldo de Chico).
Durante dois meses no ano, normalmente Julho e Agosto, tinha que “perder” aulas, já que era o período da feita de farinha e de rapadura na Cabeceira d’Água, propriedade de meu avô, finado Zeca de Alfredo. Subíamos a Serra do Paulo Louro, no lombo de jegue, com toda a tralha, para os dois meses de serviço na roça. Vem daí minha paixão pelo cheiro da massa de mandioca, do bagaço e da rapadura. Principalmente do engenho de madeira.
Com 18 anos, ainda cursando o segundo ano do ensino médio, meu tio Marinaldo me convidou para ir para São Paulo, procurar um trabalho que me desse uma renda melhor, para continuar ajudando minha família e sonhar com um futuro promissor. Foi duro ter que sair daqui. Eu, que o lugar mais distante que conhecia era a Queimada Nova, onde fui na C-10 de Jurandi Martins, para uma campanha de vacinação, fui enfrentar o mundo.
Trabalhei por dois anos na Pirelli Fios e Cabos. Em três horários. Cada semana um horário diferente. O pior era o de 22 horas a 06 horas da manhã. Não conseguia dormir durante o dia e tinha que manter a atenção durante a noite. Foi o maior aprendizado que tive na vida. Dali saí preparado para qualquer coisa.
Retornei em 1980, concluí o segundo grau em 1981, quando, também, consegui aprovação no concurso do Banco do Brasil. Tomei posse em Ibotirama e em 1983 fui transferido para trabalhar no Posto do Banco do Brasil em Brotas, onde fiquei por quase 10 anos.
Saí em 1992, tangido. O governo federal de Fernando Collor, numa tentativa de privatizar o Banco do Brasil, assim como fora feito com os bancos estaduais, decidiu esvaziar as funções do banco e de sua rede. Mandou fechar a maioria dos postos iguais ao de Brotas. Na lista, das cidades conhecidas, puxando pela memória, constavam Brotas, Ipupiara, Ibitiara, Canarana, dentre outros. Nas outras cidades houve uma movimentação do poder público e conseguiram manter seus postos e, em alguns casos, foram transformados em agências, como foi o caso de Ipupiara, onde o prefeito da época Gildásio Sodré, juntamente com o presidente da câmara Lourival Ribeiro (Louro do trator), enviaram documento ao Senador Antonio Carlos Magalhães, pedindo ajuda para manter a unidade bancaria. Pedido atendido no dia seguinte. ACM era o homem forte do governo Collor. No caso de Brotas até hoje não se sabe o que aconteceu. O fato é que dos citados acima, foi o único a ser fechado.
Vale ressaltar que os bancos sempre são fechados em Brotas. No mesmo período que fecharam o Banco do Brasil já havia sido fechado o Baneb. O mesmo fato está acontecendo em Brotas na atualidade. Não temos agências. Apenas postos. Por conta disso tive que sair pelo mundo. Seabra, Iaçu, Itabuna, Ilhéus, Simões Filho, Salvador. Mas, eu sabia que voltaria.
Como na musica No voo da Asa Branca, da grande Rita de Cassia:
“Peguei o voo da asa branca e tive que partir
Coração em pedaços, pedindo pra não desistir.........
Mas eu vou voltar, eu sei que vou voltar
Que eu encontre sorrindo, quem ficou a chorar”
Deus me abençoou e eu voltei para ajudar na tarefa de transformar Brotas, para que seus filhos não tenham que passar pela mesma situação.
Abraço a todos e obrigado
Fotos da Redação
19/09/2020
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