Memória e História
Cem Anos do Casamento de
Maria de Oliveira Rosa e Pedro dos Santos Rosa
Por Wanderley Rosa Matos
O ConviteA Celebração.
A Celebração do casamento de Pedro Dos Santos Rosa e de Maria de Oliveira Rosa deu-se no dia 11 de setembro de 1923, na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Brotas. O enlace ficou registrado como um dos mais concorridos e badalados daquela época, não somente pela riqueza dos detalhes da cerimônia e do capricho dos comes e bebes, mas e principalmente, por encontrarem-se ali, diante do altar, um casal bonito, formado por dois promissores jovens brotenses, por todos muito queridos e admirados.
O noivo: Pedro dos Santos Rosa, filho de Joviniano dos Santos Rosa e Maria do Santos Rosa;
A noiva: Maria de Oliveira Rosa, herdeira de Félix dos Santos Rosa e de Suzana Rodrigues de Oliveira.
Os dois, representantes genuínos da mais tradicional sociedade brotense são descendentes de importantes famílias, presentes no município desde os primeiros tempos. Então, o casamento, como não podia deixar de ser, foi bastante concorrido. A igreja ficou pequena para comportar a todos os presentes.
A celebração matrimonial foi presidida pelo então o Padre Crescenciano Alves Carrilho, ficando assim registrada no livro de casamentos da Paróquia.
O Registro no livro da Paróquia.
“Aos onze dias do mês de setembro de mil novecentos e vinte e três, nessa matriz de Brotas, depois das denunciações canônicas concedidas e demais formalidades prescritas, e dispensados por mim, por delegação do Exmo. Ordinário, no impedimento de consanguinidade no 3º grau simples da linha colateral igual por palavras de presente na forma do Ritual, em minha presença e das testemunhas João Arcanjo Ribeiro e Oscar dos Santos Rosa, receberam-se em matrimônio Pedro dos Santos Rosa de 31 anos de idade, e Maria de Oliveira Rosa, de 21 anos de Idade, ambos solteiros, moradores desta freguesia, filhos legítimos, ele de Joviniano dos Santos Rosa e Maria dos Santos Rosa e ela de Félix dos Santos Rosa e Suzana Rodrigues de Oliveira Rosa, e em seguida dei-lhes a bênção e, para constar mandei copiar essa que assino.
Padre Crescenciano Alves Carrilho”.
Os Nubentes.
Maria de Oliveira Rosa, que desde criança respondia pelo apelido carinhoso, dado por seus pais de “Losa”, foi a segunda filha do casal Félix e Suzana e casou se com seu primo de terceiro grau, Pedro dos Santos Rosa, filho de Joviniano dos Santos Rosa e Maria dos Santos Rosa.
Os Filhos
Da união matrimonial advieram três filhos: Vanderlino de Oliveira Rosa, apelidado de “Vandu”, falecido ainda muito jovem; Celina de Oliveira Rosa e Valmir de Oliveira Rosa, sendo que todos os três herdeiros, morreram solteiros, sem deixar descendentes.
Moradores da Barrinha
A princípio, eles foram morar em uma de suas principais propriedades, a então Fazenda Barrinha, que hoje é a próspera e aprazível comunidade de Barrinha, no município de Brotas de Macaúbas, onde passaram a residir, na casa sede da fazenda (hoje residência de Zuza e Virginia) e ali tinham uma vida simples, porém farta, pois eram agricultores e criadores de gado bovino. Naquela época contavam com a ajuda dos braços fortes do Senhor Marcionílio Mendes e de sua esposa Dona Corina Mendes, (pais de Vivaldo e avós de Bernardo). Eram eles os administradores, gerentes, os “fazem tudo”. Cuidava com zelo da propriedade, desde o plantio das roças, a manutenção das instalações e o cuidado com o gado.
Desde os tempos de Barrinha que o casal sempre frequentava a cidade, e, tempos depois resolveram construir uma bela casa na Sede, na praça da Matriz, de onde sempre se deslocavam para acompanhar de perto as atividades desenvolvidas na propriedade.Prefeito de Brotas
Pedro dos Santos Rosa, um dos homens mais respeitados e queridos da época, foi escolhido, na convenção partidária, para concorrer às eleições de 1930 vindo a ser eleito prefeito naquele concorrido pleito eleitoral.
Seu mandato foi marcado por ações de combate a corrupção uma vez que sucedera o ex-gestor Dr. Sebastião Nestor dos Santos, sob o qual pendia além da falta de prestação de contas da gestão, várias acusações de improbidade.
Logo no início do mandato o prefeito Pedro Rosa nomeou uma comissão de cidadãos notáveis e mandou fazer uma sindicância para apurar os indícios de corrupção da gestão passada, poucos dias depois o Professor Agenor Almeida dos Santos, tio do famoso intelectual Milton Santos, que presidiu a “sindicância”, entregou ao prefeito extenso relatório, “recheado de provas” dos desmandos e desvios financeiros praticados na gestão anterior. O relatório foi entregue pessoalmente ao então Governador do Estado da Bahia, Interventor Federal Juracy Magalhães a fim de exigir a apuração dos fatos.
Não imaginava Pedro Rosa que o interventor, além de negar tomar as providencias, destituiu Pedro Rosa do cargo de prefeito, e, em pleno Palácio da Aclamação, deu voz de prisão ao jovem Prefeito.
A história da eleição de Pedro Rosa e a sua injustificada destituição, ficou registrada nos livros de atas do município, mais os detalhes desta história ficaram por longos anos registrados na memória oral da inconformada população brotense, contada, em prosa e verso, de geração para geração, inclusive dando conta dos diálogos ocorridos entre o Prefeito e o Interventor, fatos estes colhidos e catalogados por mim, Wanderley Rosa Mato, a seguir resumidos.
Segundo relatos de contemporâneos do ocorrido, a história se deu no Palácio da Aclamação, em Salvador, sede do governo do Estado da Bahia. Após o governador tentar demovê-lo de seu intento, tentando colocar “panos quentes” na situação, assim reagiu com veemência o jovem Prefeito.
Pedro Rosa – “Se não for apurada a corrupção, renuncio o meu mandato”.
Juracy - “Se não queres continuar, não tem problemas, saia e indique outro nome para o seu lugar”.
Pedro Rosa - “Nem eu, e nenhum dos meus, aceitamos, sem que haja rigorosa apuração dos fatos denunciados”.
O Governador, à época Interventor, Tenente Juracy Magalhães, se sentindo desafiado pela firme determinação do Jovem alcaide, em ato arbitrário, dá voz de prisão ao prefeito:
Juracy - “Sou o governador, você não pode desacatar a minha autoridade”. Ato contínuo dá voz de prisão ao prefeito, nos seguintes termos: “Esteja Preso”.
Contam, diante da notória injustiça praticada pelo Militar Interventor, sucedeu-se a um verdadeiro “Deus-nos-acuda” no átrio do Palácio da Aclamação. Somente após esclarecidos os fatos, mediante intervenção de assessores palacianos, atônitos com arbitrariedade praticada pelo Governador, foi desfeito o mal-entendido. É certo que a veemência do jovem Prefeito no combate à corrupção de seu antecessor jamais poderia ser considerada como desacato à autoridade.
Por tal razão, diante da negativa do Governador em determinar a apuração dos fatos, o jovem e promissor Prefeito renunciou ao cargo a que foi eleito democraticamente e abdicou-se de indicar um de seus correligionários para sucedê-lo como interventor até a próxima eleição, conforme sugerido pelo Governador, voltando para Brotas de Macaúbas, para sua feliz convivência com a sua Esposa e nunca mais se envolvendo com política partidária.
Por alguns dias o município ficou sem prefeito, até que, dias depois, um dos filhos do Coronel Militão Rodrigues Coelho e, cunhado do ex-prefeito, Sebastião Nestor dos Santos, o jovem Nestor Rodrigues Coelho, foi nomeado como interventor, completando o mandato,ficando por 12 anos como prefeito de Brotas de Macaúbas, período que ficou conhecido pela alcunha de "A Ditadura de Nestor".
Um breve Adeus a Brotas de Macaúbas.
Era o ano de 1934 quando Pedro e Maria, resolveram ir embora de Brotas. Venderam seus Bens: A Casa de Brotas foi comprada por Adalberto Figueiredo e a Fazenda Barrinha pelos Irmãos Ciro e Gaudêncio Oliveira. Encantados com a fertilidade do solo e o sistema de chuvas do Sul da Bahia, estabeleceram-se na cidade Itororó, onde adquiriram um grande lote de terras e implantaram a fazenda Mantiqueira, especializada na criação de Bovinos, e ali, na companhia dos filhos Valmir e Celina, viveram normalmente suas vidas, fazendo fortuna, eles que seriam considerados como os mais prósperos filhos de Brotas de Macaúbas de todos os tempos.
Marcados na história.
A firmeza de caráter, a cumplicidade, a determinação, a bondade, o espírito humanitário e a solidariedade, dentre outras inúmeras virtudes do casal centenário, testemunhadas por toda uma geração, certamente permanecerão marcados na centenária e rica memória brotense.
Lembranças.
Hoje 100 anos após a celebração de seu casamento, queremos parabenizar Pedro Rosa e sua esposa Dona Maria de Oliveira Rosa e seus filhos, todos vivendo em outro plano, servos do senhor, pelas suas incansáveis lutas no sentido da construção de uma município melhor.
Texto:
Wanderley Rosa Matos com correção de Vandilson Rosa Matos e Lucília Rosa Matos.
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